No dia 25 de janeiro, a cidade de São Paulo completou 469 anos de história. É uma longa jornada que nos trás uma mistura cultural e genética comparável com poucos lugares do mundo: mais de 70 nacionalidades diferentes ajudaram a construir São Paulo e deixaram sua marca na cultura, comida, esportes, arquitetura e vários outros aspectos da vida cotidiana, inclusive na genética.
Para entender como diferentes populações deixaram sua assinatura no DNA paulistano, vamos contar sobre um pouco da história da cidade, observada sob a ótica da genética de populações.
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Antes de 1500
Antes da chegada dos europeus ao Brasil, populações indígenas pertencentes ao tronco linguístico Tupi-Guarani – em sua maioria Tupiniquins – eram as principais ocupantes da região.
Nessa época, o que hoje chamamos de São Paulo abrangia, num espaço geográfico relativamente curto, uma diversidade considerável de ecossistemas: enquanto a região central delimitada pelos vales do Anhangabaú e do Tamanduateí consistia especialmente em vegetação rasteira semelhante ao Cerrado, as várzeas dos rios Tietê e Pinheiros consistiam em planícies alagadiças que lembravam o Pantanal, ao passo que a Serra da Cantareira e toda a área ao sul de Santo Amaro possuía cobertura de Mata Atlântica.
Essa situação caracteriza o que chamamos de ecótono: um ponto de encontro entre diversos ecossistemas. Isso caracterizava uma biodiversidade ímpar em São Paulo, portanto, abundância de animais e plantas para alimentação, o que atraia populações indígenas para se assentarem ali, fazendo com que já nessa época a região fosse uma grande encruzilhada de povos e idiomas.
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A chegada dos primeiros europeus
Em 1554, os jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, ao rezarem a primeira missa no Colégio São Paulo de Piratininga, atual Pateo do Collegio, localizado no atual Centro Velho da cidade, estabeleceram a fundação oficial do povoado de São Paulo.
Poucos anos depois, em 1560, o povoado foi elevado à vila e, em 1711, tornou-se oficialmente uma cidade.
Durante três séculos, no entanto, o território geográfico de São Paulo não passou de uma pequena elevação entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, que servia majoritariamente de base para missões de entradas e bandeiras, de modo que, por muito tempo, São Paulo era um lugar de pouca importância frente outras grandes cidades brasileiras como Recife e Salvador, que a essa altura já eram centros urbanos de relevância.
O grande crescimento de São Paulo começaria apenas na segunda metade do século XIX.
O século XIX: café, ferrovias e novos genes
A chegada do cultivo de café no Vale do Paraíba, em São Paulo, no século XVIII, mudou a cara da região.
A cidade de São Paulo deixaria de ser um mero entreposto e se tornaria a capital de uma das capitanias mais ricas do Brasil. Mais do que isso: a vinda dos africanos escravizados para o trabalho nas fazendas de café representaria a segunda grande mudança no pool genético paulistano. Em sua maioria, eram do tronco etnolinguístico bantu, oriundos majoritariamente do sudoeste africano.
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Além disso, a produção cafeeira precisava de uma forma rápida de escoamento para o porto de Santos, e São Paulo estava numa posição privilegiada para servir como conexão geográfica entre interior e litoral.
A criação da São Paulo Railway, responsável pela construção da ferrovia Santos-Jundiaí com esta finalidade na segunda metade do século XIX, representou um grande aporte genético das Ilhas Britânicas em São Paulo (dado que a maior parte da mão de obra especializada na construção da ferrovia era inglesa), além de ter sido a principal responsável pelo crescimento e modernização da cidade.
As atuais estações da Luz, do metrô, e Julio Prestes, da CPTM (onde também fica a Sala São Paulo), carregam, em sua arquitetura vitoriana, o legado da presença britânica na cidade.
Fim da escravidão e mais imigrantes
Outro país que contribuiu com o impacto cultural e genético significativo foi a Alemanha, cuja primeira leva de imigrantes chegou em 1827, destinada a Santo Amaro, com a promessa de terras – o que não foi cumprido ou cumprido parcialmente. Muitos trabalharam em siderúrgicas na região de Sorocaba, ou cafezais em Campinas ou Limeira, mas acabaram por emigrar para São Paulo atrás de melhores condições.
Atualmente, vemos a marca destes imigrantes, como nas fundações do Clube de Pinheiros, existente até os dias de hoje, do Hospital Santa Catarina e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, das cervejarias Antarctica e Brahma, entre muitas outras construções.
Já a imigração italiana se deu principalmente de 1870-1930, impulsionada por vários fatores, entre os quais se destacam:
- mercado necessitado de mão de obra devido ao fim da escravidão no Brasil;
- más condições socioeconômicas na Europa;
- uma política de custeio de passagem para europeus com a finalidade de “embranquecimento” da população.
A estimativa é de que 1,5 milhão de imigrantes italianos tenham chegando ao Brasil no período, tendo chegado a representar 90% da mão de obra de fábricas na cidade no começo do século XX, se instalando e fundando os bairros da Mooca, Brás e Bixiga.
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Imigração no século XX
A imigração japonesa teve início em 1908, com a chegada do primeiro navio de imigrantes no porto de Santos. Se instalaram principalmente no bairro da Liberdade, que hoje é um bairro tipicamente japonês.
Tem impacto cultural profundo na alimentação, como o desenvolvimento de restaurantes de sushi, com adaptação ao paladar brasileiro e o Hospital Nipo-Brasileiro, entre diversos outros. Atualmente, mais de 1 milhão de japoneses moram em São Paulo.
A chegada dos primeiros árabes se deu também no fim do século XIX, mas começou a se tornar significativa no começo do século XX, provindos principalmente do Líbano e da Síria.
Se instalaram inicialmente na região da 25 de março, se expandindo posteriormente a bairros como Vila Mariana, Paraíso e Ipiranga. Deixaram marcas como a criação do Clube Homs e do Esporte Clube Sírio, a avenida Salim Farah Maluf, o hospital Sírio-Libanês e inegavelmente, uma marca na gastronomia, com a forte presença de esfihas, kaftas, beirutes, kibes entre tantas outras iguarias que se tornaram parte do paladar paulistano.
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Atualmente, São Paulo continua a receber imigrantes de toda a parte. De acordo com o IRI-USP, 3,2% da população paulistana é composta por imigrantes, e 32% dos imigrantes do Brasil estão em São Paulo.
Sírios, haitianos, bolivianos, venezuelanos, angolanos e moçambicanos constam entre os que mais tem chegado à cidade nos dias atuais: novas peças no quebra-cabeças genéticos da cidade, prontas para construir seus redutos, suas histórias e deixar suas marcas gravadas no DNA da cidade.
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