Selecionado na primeira rodada do “draft” da NBA de 1993, Shawn Bradley, da Brigham Young University, chamou muita atenção devido aos seus 2 metros e 31 centímetros. Isso significa 12,5 centímetros a mais do que Shaquille O’Neal, uma das grandes estrelas da NBA, draftado um ano antes. Bradley consegue alcançar a cesta sem levantar os pés.
Altura jogadores de basquete – Shawn Bradley
Recentemente, cientistas que analisaram o DNA de Bradley afirmam ter entendido a razão de sua altura. De acordo com a equipe da Brigham Young University, Bradley não possui nenhuma mutação rara ou disfunção da glândula pituitária (que costuma ser a causa de distúrbios relacionados à altura). Ao invés disso, ele aparentemente “tirou a sorte grande genética” ao herdar uma combinação de variantes genéticas perfeitamente normais que, quando combinadas, fizeram com que ele fosse mais alto que 99,9999% das pessoas.
(Pense assim: você teria que juntar 10 milhões de pessoas pra achar alguém mais alto que ele.)
John Kauwe, biólogo da Brigham Young University, reconheceu o jogador após ser redirecionado para a primeira classe num vôo, onde o viu extremamente desconfortável entre os assentos já maiores que o padrão. Eles então começaram a conversar, e chegaram a um acordo quando Kauwe admitiu ter interesse em analisar o DNA de Bradley.
Escore de Risco Poligênico
O interesse da equipe era aplicar uma nova tecnologia conhecida como Escore de Risco Poligênico (polygenic risk scoring). A ideia por trás desta técnica é, para uma determinada característica, medir pequenas variações para mais ou para menos e somá-las para obter uma previsão sobre esta condição, seja ela altura, risco cardíaco, predisposição ao câncer ou até mesmo QI.
Sistemas como este estão sendo amplamente debatidos atualmente. Foi somente nos últimos dois anos que o surgimento de bases de dados gigantescas de DNA levaram os cientistas a poder começar a estudar as pequenas porém inúmeras diferenças genéticas que moldam traços como a altura de um indivíduo.
Muitos cientistas mantém o ceticismo, afirmando que previsões como essa são muito incertas para uso prático. Isso porque as novas técnicas não levam em consideração todas as evidências genéticas e também porque nem tudo sobre uma pessoa está em seu DNA. Para a maioria das pessoas, que se encontram longe dos extremos para as características em questão, tal previsão será realmente de pouco valor.
Mas nos extremos as coisas ficam mais interessantes. Foi o que fez, afinal, com que o DNA de Bradley fosse válido de se analisar. Para pessoas com escores extremamente altos ou baixos, o teste pode versar sobre consequências importantes. Quando seu DNA foi comparado com os de outras 1020 pessoas, ele foi corretamente posicionado como nº 1 em altura prevista.
Testes Genéticos
Detectar pontos fora da curva (outliers) pode ser útil na medicina. Cientistas em Boston afirmaram que seria válido as pessoas se submeterem a Testes Genéticos como esse para risco cardíaco. Isso depois de perceberem que os escores mais altos na avaliação para este risco realmente possuam uma chance preocupante de sofrerem com doença cardiovascular.
E os extremos do DNA podem funcionar também para análises comportamentais. Alguns psicólogos acreditam que pais devem testar seus filhos para prever se serão extremamente inteligentes (ou o contrário).
Assim como a altura, a inteligência é fortemente influenciada pelos genes que você herda. “O potencial para detecção de outliers está aí, com certeza” afirmou Kauwe num e-mail. “Temos interesse em diversos fenótipos extremos – QI seria interessante, por exemplo.”
O biólogo diz que sua equipe está atualmente em busca de pessoas com escores extremos para desenvolvimento de Alzheimer. “Se pudermos usar a genética para saber quem estará nos extremos podemos priorizar pessoas para testes clínicos”, afirma.
Kauwe não se posiciona sobre se escores poligênicos devem ser usados para detectar atletas de elite ou estudantes jovens. Ele diz acreditar na existência de complexas “questões morais” acerca desta tecnologia que ainda precisam ser resolvidas.
As predições genéticas também possuem acurácia limitada. Apesar de Bradley ter sido corretamente identificado como outlier, sua altura real não foi nem de perto a apontada pelo teste, bem como seria impossível afirmar que ele seria talentoso o suficiente para o basquete.
Por Technology Review