O amplo calendário de comemorações populares no Brasil reserva ao sexto mês do ano – junho – uma das suas principais festividades: as festas juninas. Só de citar esse assunto, nossa mente imediatamente abre espaço para o clássico toque das sanfonas, triângulos e zabumbas que animam as cantigas e os dançarinos das quadrilhas.
Ou então, se você é daqueles que são mais atraídos pelo estômago, nada como uma pamonha, bolos de milho, canjica, pinhão, milho cozido, caldos, cachorro-quente, quentão, amendoim, paçoca, espetinhos… Deu fome aí?
As festas juninas estão tão inseridas em nosso imaginário popular que parecem uma festa extremamente brasileira. Entretanto, elas não começaram exatamente aqui no nosso país. Você sabia que elas têm uma tradição histórica trazida por povos de outros continentes e existem por lá há séculos?
É claro que, ao longo do tempo, os brasileiros de norte a sul do país fizeram diversas adaptações para deixá-las com um jeitinho único. Hoje, as festas juninas atraem até turistas estrangeiros, principalmente para o Nordeste, todos os anos.
Mas toda história tem sua raiz! Visitar o passado nos ajuda a entender a nossa conexão com os nossos ancestrais e com quem somos. Está na hora de conhecer como e onde surgiram as festas juninas para chegar nas comemorações preparado para contar para todo mundo as origens de tanta celebração.
Comemorar a chegada do calor… em junho?
“Noite fria, tão fria de junho
Os balões para o céu vão subindo
Entre as nuvens aos poucos sumindo
Envoltos num tênue véu”
O trecho acima é de uma música que se chama “Noites de Junho” e foi eternizada na voz de Emilinha Borba (1923-2005). É uma marchinha clássica que anima festas juninas há décadas. Além dos tradicionais balões (hoje em dia proibidos devido aos incêndios que eles causavam), a canção nos lembra que aqui no Brasil, e em todo o hemisfério sul, o mês de junho dá início ao inverno.
As temperaturas caem bruscamente nessa época do ano, principalmente nas regiões mais ao sul. Na festa junina brasileira, para se esquentar só se aproximando das fogueiras ou tomando um delicioso chocolate quente. Mas enquanto estamos aqui passando frio, lá do outro lado do mundo os países do hemisfério norte vivem a chegada do verão.
Talvez, a mudança de estações não seja um fator que afeta tão diretamente o nosso cotidiano, que tem um ecossistema social, estrutural e tecnológico adaptado para que todos continuemos trabalhando, interagindo e até comendo os mesmos alimentos durante o ano todo. Entretanto, isso não era realidade para as sociedades dos séculos passados.
Em países com inverno rigoroso, seguir com as plantações e serviços ao ar livre era algo inviável. A vida se tornava mais dura e sobreviver com os recursos disponíveis era um desafio que, quando vencido, merecia uma comemoração.
E é em junho que acontece o solstício de verão, a data central escolhida em muitos locais para comemorar essa mudança de estação. O solstício é quando, em um dos hemisférios globais, temos o dia mais longo do ano, com a maior incidência de raios solares.
A data foi especialmente pinçada por povos de várias localidades do hemisfério norte para a realização de festas que exaltavam a fertilidade e seus deuses, com o objetivo de realizar rituais pedindo que a colheita fosse farta, garantindo um ano tranquilo e próspero para todos.
Foram essas comemorações tradicionais, celebradas em uma época do ano com várias opções para alimentação, danças, fogueiras, decorações e muita música, que se começou a moldar o que temos estabelecido como festa junina atualmente.
Mas como as festas juninas vieram parar aqui no Brasil?
Diante da dificuldade de combate às tradições chamadas de pagãs, os líderes políticos e religiosos cristãos europeus talvez tenham se rendido ao ditado que diz: “se não podes vencê-los, junta-te a eles”. Ou seja, a melhor forma de atrair as pessoas para o cristianismo era adaptar vários de seus costumes antigos para a nova religião.
Concomitante às comemorações do solstício de verão, passaram a ganhar forças as festas católicas que remontam ao nascimento ou martírio de santos católicos.
O primeiro deles é São João Batista, figura muito importante no cristianismo. Segundo a tradição religiosa, São João batizou o seu primo, Jesus Cristo, dando início oficial à jornada desse líder religioso. A data oficial para o dia de São João é 24 de junho, mas as comemorações se dão principalmente na véspera, assim como acontece no Natal.
E é exatamente por causa de São João que as festas dessa época do ano já foram chamadas também de “festas joaninas”. Com o passar dos anos, o calendário católico passou a contar com outros dois dos principais santos católicos: Santo Antônio (dia 13) e São Pedro (dia 29). Junto com São João, eles são chamados de Santos Populares.
Assim como outros costumes europeus, a festividade dos santos juninos foi trazida aos poucos pelos colonizadores ibéricos para o Brasil, a partir do século 16.
De acordo com o artigo “Festa Junina, tradição representativa da cultura popular no Brasil”, redigido por Maria de Fátima Nunes de França e Rosanne María Nascimento de Souza, as festas juninas brasileiras eram, “até meados do século XX, eventos familiares ou do entorno imediato das unidades residenciais”.
Segundo os registros feitos por Rossini Tavares de Lima e Luís da Câmara Cascudo, as festas juninas ganharam caráter de comemoração que agrega multidões entre a metade do século 20 e a década de 1970, quando a urbanização se intensificou, trazendo a festa para as ruas e praças.
No texto “Da casa à praça pública: a espetacularização das festas juninas no espaço urbano”, o pesquisador Janio Roque Barros de Castro concorda com a tese de mudança de características das festas juninas, adicionando o fato que foi nessa época que “passou-se a enxergar as festas populares como um vetor turístico”.
Desta forma, as festas juninas brasileiras atuais agregam as antigas referências pagãs europeias, as tradições cristãs e católicas adicionadas pelos colonizadores e, por fim, as adaptações locais inspiradas nos vilarejos do interior para uma festa única que une cultura popular, laços familiares e gastronomia. É uma festa multicultural brasileira, aberta, composta por católicos e pessoas com outras crenças ou mesmo as que não são religiosas.
Como outros países comemoram as festas juninas?
Como você leu anteriormente, as comemorações juninas não são restritas ao Brasil. Vários países também realizam festas populares nessa época utilizando costumes locais. Conheça algumas delas!
Festa junina no Canadá
O Canadá tem festas juninas nas cidades que receberam a colonização francesa, de onde veio a tradição, como em Quebec – onde, inclusive, é feriado nessa data. São feitos grandes desfiles e acesas fogueiras. É uma ótima oportunidade para experimentar o prato tradicional da região, o poutine, preparado batata frita, queijo e molho de carne.
Festa junina na Espanha
Os espanhóis também não deixam as tradicionais fogueiras de fora, que são acesas após os desfiles com bonecos, cavaleiros, fogos de artifício e muitas apresentações culturais. Na Catalunha, comida mais típica desta data é a Coca de San Juan, um tipo de massa assada no forno.
Festa junina na Noruega
Os noruegueses dão o nome de Sankthans para o dia de São João. Na tradição norueguesa, o principal atrativo das festas é o acendimento de grandes fogueiras. O país já conseguiu durante anos manter o registro no Guinness Book de maior fogueira do mundo com o Slinningsbålet, de quase 50 metros de altura, na cidade de Ålesund, mas o recorde atualmente pertence à Áustria.
Festa junina em Portugal
Em Portugal, junho é o mês das Festas dos Santos Populares. É uma festa muito colorida, com balões, fogos de artifício e uma tradição especial: oferecer um vasinho de manjerico (uma planta muito próxima do manjericão), também chamado de Erva dos Namorados, para o pretendente amoroso. Algumas das comidas típicas são caldo verde e sardinha assada.
Festa junina na Rússia
A noite de Ivan Kupala tem origens eslavas e envolve cerimônias em rituais em volta de fogueiras, em busca de purificação e afastamento dos males. Deve-se permanecer acordado durante esta noite, que é a mais curta do ano, para afastar os maus espíritos. A tradição eslava também contempla a busca pela flor de samambaia. Quem a encontrasse a flor teria prosperidade e felicidade abundante. Só um detalhe: a samambaia não produz flores.
Festa junina na Suécia
A Suécia comemora o solstício de verão como uma das festas mais importantes do ano. As mesas ficam repletas de peixes como salmão (para fazer um gravlax) e arenque, doces de morango (jordgubbstårta) e bebidas alcoólicas variadas, chamadas de snaps ou aquavit. As cidades e parques ficam repletos de pessoas que preparam guirlandas de flores, fazem danças folclóricas e vestem trajes típicos.
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