Existe algo como um conhecimento popular… não, talvez algo maior; um instinto coletivo de que qualquer material biológico ou orgânico fora da geladeira estraga em pouquíssimo tempo, inclusive o DNA. Talvez aprendamos isso ao esquecer um leite, iogurte ou feijão em cima da mesa por alguns dias, e quando os achamos estão descaracterizados com cores, cheiros e aparência estranhos, e até com novas formas de vida contidas ali.
Por causa desse instinto, talvez, é comum a recepção com estranheza de que é possível mandar material genético para exames apenas utilizando “cotonetes” e enviando-os para análise em um envelope de papel.
“Mas como assim? Não vai estragar?” “Ah, prefiro fazer presencialmente pra garantir”
A regra popular, no entanto, não se aplica a tudo existente no universo: o nosso DNA consegue se manter por bastante tempo. Bem mais do que imaginamos!
Em 2013, a polícia do estado de Massachusetts foi capaz de dar um passo no caso não solucionado de um assassino e estuprador em série da década de 60. Para isso, amostras de material genético foram colhidas do cobertor de uma das vítimas e então comparadas com um parente vivo do suspeito.
As amostras eram muito semelhantes. Após liberação de exumação do corpo, foi confirmado que o material genético era do então suspeito, Albert DeSalvo. Seu DNA estava íntegro o suficiente para uma análise genética mesmo 50 anos após a sua morte.
Existem casos mais longínquos ainda. O corpo do rei Ricardo III (1452-1485) foi supostamente achado debaixo de um estacionamento na Inglaterra. Análises genéticas, comparando seu DNA ao de uma descendente de seu irmão, comprovaram que os restos mortais realmente pertenciam a ele.
Recentemente, análises genéticas de múmias revelaram que suas ancestralidades estariam relacionadas à de fazendeiros da região de Israel e Jordânia. A múmia mais antiga datava de 3400 anos atrás.
Esses casos ilustram como o nosso DNA é, na verdade, bem resistente e pode demorar muito tempo para “estragar”. É verdade que, sob as condições erradas, como exposto diretamente ao sol, ele pode se degradar, devido à radiação. No entanto, temos amostras de DNA humano datadas de 7.000 anos atrás, e o recorde de amostra de DNA mais antigo é da Groenlândia, de aproximadamente 800.000 anos atrás, proveniente de árvores e insetos.
O DNA de fato estraga fora da geladeira?
Quando falamos de que o DNA “estrague”, não estamos falando de sua total desintegração. O DNA é uma molécula formada por nucleotídeos, cada um deles unido por uma ligação muito difícil de ser rompida. Por conta disso, o DNA não se desfaz facilmente; no entanto, a forma que a informação genética é armazenada pode ser perdida com o tempo.
Estudos recentes mostram que a meia-vida do DNA é de cerca de 521 anos. Isso significa que a cada 521 anos, metade das ligações do DNA são destruídas, deixando-o com buracos em sua sequência. Para sua total destruição, são precisos 6,8 milhões de anos. Nada mal para uma estrutura cujo dono tem uma expectativa de vida de 80 anos, né?
Então pode ficar despreocupado: guardado da forma correta, seu material genético não vai “estragar” em 1 ano, que dirá 1 mês – ele pode durar bastante tempo. Se você der sorte, pode até ser que daqui a alguns milhares de anos alguém encontre seu material e acabe descobrindo que você não gosta de coentro. A genética não é demais? Fique por dentro do nosso Blog!
Veja como é fácil coletar a amostra de DNA:
Referências
http://www.nbcnews.com/id/49366487/ns/technology_and_science-science/t/how-long-can-dna-last-million-years-maybe-more/#.XlibbyFKipo
http://livescience.com/38150-dna-degradation-rate.html
https://www.mentalfloss.com/article/48815/how-long-does-dna-last
https://www.livescience.com/7331-ancient-greenland-green.html
https://www.sciencefocus.com/the-human-body/how-long-does-dna-last/
https://slate.com/technology/2013/02/dna-testing-richard-iii-how-long-does-dna-last.html
https://www.nature.com/news/dna-has-a-521-year-half-life-1.11555
https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rspb.2012.1745
https://www.theguardian.com/world/2013/jul/19/boston-stranger-dna-test-albert-desalvo
https://www.nature.com/news/mummy-dna-unravels-ancient-egyptians-ancestry-1.22069