A vida e as descobertas da mulher que mudou a história da genética
No mês de Junho comemoramos o nascimento da geneticista Barbara McClintock, primeira mulher a receber sozinha o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina e a observar a dinamicidade de certos elementos genéticos, quebrando importantes paradigmas relacionados ao conceito de genoma.
Nascida em 16 de junho de 1902, em Connecticut, Barbara viveu durante 90 anos e deixou como legado relevantes estudos na área da genética, como a descoberta dos elementos genéticos móveis dos cromossomos – também chamados de elementos saltitantes – e da importância dos telômeros, chegando a ser considerada, junto a Gregor Mendel e Thomas Hunt Morgan, uma das figuras mais importantes da história na área.
Desde cedo, a pesquisadora era muito independente e curiosa, mostrando grande interesse pela ciência. Aos 6 anos de idade, sua família se mudou para o Brooklyn, onde pôde completar sua educação secundária. Logo após terminar o ensino médio, Barbara decidiu seguir seus estudos em agricultura na Universidade Cornell.
No entanto, a jovem foi confrontada pela oposição de sua mãe, que queria impedir a filha de ingressar no ensino superior por receio de que sua formação representasse um obstáculo para que se casasse futuramente. Contudo, apesar da relação difícil com a mãe desde a juventude, Barbara lidava muito bem com seu pai, de quem recebeu apoio para que pudesse efetivar sua inscrição na Cornell em 1919.
Em 1923, a estudante obteve o título de bacharel, seguindo então para a pós-graduação, tornando-se mestre em 1925, e em 1927 recebendo o título de doutora em botânica especializada em citologia, genética e zoologia. Tudo isso com apenas 25 anos. Após o término do doutorado na Cornell, Barbara ainda permaneceu como instrutora e pesquisadora da Universidade até 1941.
Durante sua pós-graduação, a jovem embrenhou-se na linha de pesquisa que ocuparia toda sua vida profissional futura: a análise cromossômica do milho. Utilizando-se da microscopia e de uma técnica de coloração que a permitia identificar e descrever os cromossomos do milho individualmente, a pesquisadora foi capaz de entender e demonstrar a importância dos telômeros – porções terminais dos cromossomos – para a divisão celular.
Em 1941, McClintock se mudou para Nova York, onde passou o resto de sua vida profissional realizando pesquisas para o Laboratório Cold Spring Harbor. Nos anos 40, ao observar e realizar experimentos com a variação de cor dos grãos de milho, descobriu que a informação contida no DNA não era estática.
Ao rastrear mudanças de pigmentação no milho e examinar os grandes cromossomos da planta através do microscópio, ela isolou dois genes que chamou de “elementos de controle”, cujo papel consistia na regulação dos genes responsáveis pela pigmentação.
Durante suas observações, a pesquisadora descobriu que tais elementos de controle podiam se mover ao longo do cromossomo para um local diferente, e que essas mudanças afetavam o comportamento dos genes vizinhos. Barbara então sugeriu que esses elementos transponíveis eram responsáveis por mudanças na pigmentação e outras características externas da planta.
Atualmente não há como negar a importância do trabalho de Barbara para o avanço dos estudos na área da genômica. A descoberta dos elementos saltitantes e da importância dos telômeros abriu as portas para uma compreensão muito mais profunda de complexos processos que ocorrem no DNA tanto de plantas quanto de animais.
Entretanto, em 1944, a comunidade científica praticamente ignorou as descobertas da bióloga. O trabalho de McClintock estava à frente de seu tempo e foi considerado por muitos anos radical demais por ir contra o conceito vigente na época de constância do material genético.
Esta falta de reconhecimento levou a pesquisadora a parar de publicar os resultados de seu trabalho e deixar de dar palestras, embora continuasse ativa em suas pesquisas. Quando o reconhecimento finalmente chegou, quase 30 anos depois, Barbara McClintock recebeu diversos prêmios e honrarias, mais notavelmente o Prêmio Nobel de 1983 para Medicina e Fisiologia, tornando-se primeira mulher a ser vencedora desse prêmio sozinha. Além do Nobel, Barbara recebeu outros prêmios, como a Service Award, Carnegie Institution of Washington, em 1967, a National Medal of Science em 1971 e o Albert and Mary Lasker Award em 1981.
Barbara morreu aos 90 anos em 1992, no Hospital Huntington, em Nova York, mas seu trabalho continua dando frutos até hoje. Até poucos anos atrás, os elementos saltitantes eram considerados parte do DNA lixo não codificante. Hoje, no entanto, o próprio conceito de DNA lixo está sendo revisto, como em pesquisas que vêm relacionando esse DNA como fator decisivo para o desenvolvimento embrionário e encontrando relações entre o DNA lixo e o autismo, por exemplo. Essas recentes descobertas vêm nos mostrar que há um longo caminho a ser desbravado na área da genômica, porém não podemos deixar de reconhecer que graças a trabalhos como o de Barbara McClintock, muito já foi percorrido até aqui.