As relações entre Brasil e Marrocos tem crescido nos últimos anos. Mas a influência marroquina no Brasil acontece há séculos. E também está no DNA dos brasileiros!
O Marrocos é um país rico em cultura e tradições, devido principalmente às influências que recebeu de diferentes povos durante sua história. Por isso, desperta a curiosidade e interesse de todo mundo, incluindo os brasileiros. E já foi até tema de uma telenovela brasileira de bastante sucesso no horário nobre. A novela “O Clone” foi ao ar entre 2001 e 2002.
| Leia também: Curiosidades culturais do Marrocos
Relações entre Brasil e Marrocos
O relacionamento entre Brasil e Marrocos data desde a chegada dos portugueses ao novo mundo, durante as grandes navegações. Península Ibérica e Marrocos sempre tiveram relações durante sua história, e muitas influências árabes foram trazidas por Portugal junto às caravelas que aqui chegaram.
Essa relação por intermédio de Portugal se intensifica ao considerar que, além do Brasil, o país ibérico também colonizou parte do Marrocos, exercendo poder sobre as duas nações.
De fato, em 1769, Portugal evacua a fortaleza de Mazagão, no litoral do Marrocos, temendo o avanço do exército árabe, e transfere sua população para a região Amazônica, principalmente no estado do Amapá. A intenção era proteger as fronteiras de sua colônia americana da crescente presença estrangeira nos territórios vizinhos.
Outro momento em que o Brasil recebe migrantes do Marrocos, e também na região amazônica, é a partir do início do século XIX. Atraídos pela exploração da borracha, a Amazônia foi o destino escolhido por judeus marroquinos que fugiam das perseguições antissemitas e buscavam novas oportunidades para se restabelecerem.
| Dica de leitura: A história dos Judeus Sefarditas no Brasil
Diplomacia e relações comerciais
No ano de 1861, foi aberto o primeiro consulado brasileiro no Marrocos, na cidade de Tânger. E, após independência do Marrocos, em 1956, o Brasil restabeleceu as relações e inaugurou, em 1961, sua embaixada na capital Rabat, e que foi comandada pelo escritor brasileiro Rubem Braga.
A partir de então, as negociações comerciais e relações diplomáticas entre os dois países só têm aumentado, inclusive o interesse de grande parte dos brasileiros de visitar essa nação do norte africano, que cresce a cada ano.
Segundo publicação do Instituto de Estudos Hispano-Lusófonos, cerca de 32 mil brasileiros visitaram o Marrocos em 2016, e esse número passou de 45 mil no ano seguinte. A busca pelo turismo ao Brasil pelos marroquinos também tem se destacado ao longo dos últimos anos. A não exigência de visto facilita as viagens nos dois sentidos.
Atualmente, Brasil e Marrocos são parceiros comerciais para diferentes produtos, e a intenção é aumentar essa relação, conforme aponta o Observatório de Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil.
Marrocos no DNA brasileiro
Sabia que grande parte da população brasileira tem DNA marroquino em sua composição genética?
Já citamos as migrações na região Norte do país. Algumas comunidades se desenvolveram com influências judaicas, cristãs, marroquinas e amazônicas. E devido à miscigenação, possuem parte da genética desses povos em seu DNA.
Mas, em todo o restante do país, muitos brasileiros também compartilham a genética marroquina.
De acordo com levantamento interno de dados da Genera, 5,48% do DNA brasileiro é do Oriente Médio, região étnica da qual pertence o Marrocos, apesar do país estar localizado na África. Na região Nordeste, essa média sobe para 6,21%.
Já especificamente do Magrebe, o DNA do brasileiro corresponde a 3,8%, ou seja, a maior parte da genética brasileira que vem do Oriente Médio pertence ao Magrebe. Desse número, 47,32% vem do Marrocos.
| Entenda: Como a Genera desvenda o seu DNA?
Do Magrebe para o mundo
O Magrebe é a região noroeste do continente africano, incluindo o Marrocos. Devido ao deserto do Saara, que funcionou como uma barreira física entre o Norte da África e o restante do continente, essa região teve mais contato com os povos do Oriente Médio, e por isso faz parte do mundo árabe.
Contudo, pelo Estreito de Gibraltar, era possível chegar à Península Ibérica e à Europa, o que influenciou muito a migração de populações entre essas regiões. Em sua história, o Marrocos passou por diversas ocupações de diferentes povos, como a invasão dos fenícios, expansão islâmica e colonização europeia.
| Saiba mais: História, ancestralidade e diversidade cultural do Marrocos
Durante a expansão islâmica no século VII, por exemplo, muitos cristãos do Magrebe migraram para a Europa, especialmente para Itália, a fim de preservar suas crenças e tradições.
Com o passar do tempo, essas comunidades foram absorvidas pelas populações locais. É possível, portanto, que grande parte de seus descendentes tenham chegado ao Brasil e América do Sul durante a imigração italiana entre 1870 e 1920.
Além da Itália, outros países possuem uma numerosa população de descendentes do Magrebe, como França, Bélgica e Países Baixos.
As migrações entre Marrocos e Península Ibérica que ocorreram durante toda a História desde a Antiguidade também podem ter influenciado na composição genética desses povos, deixando antigos traços de DNA marroquino nos colonizadores portugueses que vieram para o Brasil.
Influências marroquinas no Brasil
A influência do Marrocos no Brasil se deu principalmente por intermédio dos colonizadores portugueses, devido as relações históricas entre Marrocos e Península Ibérica.
| Leia também: Curiosidades culturais do Marrocos
No Amapá, no município de Magazão, acontece todos os anos a festa de São Tiago, um dos maiores espetáculos de teatro à céu aberto do Brasil. A tradicional festividade relembra a guerra entre cristãos e árabes que culminou na transferência de toda uma cidade portuguesa do Marrocos para o Brasil.
Atualmente, no vilarejo onde ocorre a festividade, ficam hasteadas as bandeiras de Portugal e de Marrocos junto as do Brasil, do município e do estado do Amapá. E a celebração passou a exaltar a importância da diplomacia entre os países.
A maior contribuição marroquina no Brasil, contudo, pode ser percebida na arquitetura e decoração. Combinação de cores, texturas, formas e padrões específicos são utilizados e, muitas vezes, sem que as pessoas saibam de sua influência marroquina.
Mas a maior presença dessa influência está no azulejo. Conhecido como zellige, o azulejo marroquino é inspirado na arte secular de mesmo nome, que consiste em um tipo de mosaico com pequenos pedaços de ladrilho cuidadosamente moldados e dispostos de forma a criar padrões geométricos e coloridos.
Além disso, o zellige foi uma das influências do azulejo português, muito utilizado nas casas brasileiras.
Já em relação à culinária, os pratos marroquinos são bastante apreciados em todo mundo, especialmente por causa dos temperos e da combinação de alimentos, com forte influência árabe, ibérica e mediterrânea. Cada vez mais se tornam mais comuns nas cidades brasileiras, com destaque para o famoso cuscuz marroquino.