No dia 31 de outubro, em vários países do mundo, se comemora o Halloween. Aqui no Brasil, muita gente chama a data de “Dia das Bruxas”. Você conhece a origem dessas comemorações? Sabe o que o termo “Halloween” significa? Como esta festa ficou tão popular mundialmente e quais são as diferenças em alguns locais?
Neste texto, vamos contar os detalhes desta história sem travessuras e prometemos não te dar nenhum susto no meio dela. Afinal, esta é uma imersão com propósito bem doce e reconfortante: conhecer o passado e entender as influências culturais dos antepassados que cercam nosso cotidiano.
O que significa Halloween?
Para começar, é importante entender qual é o significado da palavra que dá nome à festividade. Afinal, o termo “Halloween” causa um estranhamento à primeira vista, pois claramente não tem ligação próxima com nenhuma outra palavra da língua portuguesa que utilizamos no dia a dia.
Halloween é uma derivação de “All Hallows’ Eve”. Vamos destrinchar estes termos em inglês? A palavra all significa todos. Hallow significa “santo” ou “sagrado”. Já eve é o mesmo que véspera.
Portanto, “All Hallows’ Eve” é a “véspera do Dia de Todos os Santos”, uma data celebrada pela Igreja Católica no dia 1º de novembro. Vale ressaltar que o dia seguinte, 2 de novembro, é o Dia dos Finados, ou seja, dos mortos. Voltando ao assunto principal, a véspera do dia 1º de novembro é, claro, o dia 31 de outubro.
Mas, afinal, séculos atrás, o que acontecia nessa tal data da véspera do Dia de Todos os Santos? Como o Halloween se tornou o que é atualmente? Vamos conferir a seguir!
Dos celtas aos americanos: como surgiu o Halloween?
Por mais que os Estados Unidos hoje sejam a principal referência de país quando se pensa em Halloween, a festa não é originária de lá. Inclusive, os navegadores europeus sequer haviam pisado na América quando a tradição começou.
Como muitas das tradições populares, o Halloween também é relacionado pelos historiadores com as festas pagãs, as mudanças de estações, colheitas e celebrações religiosas e espirituais dos povos mais antigos, realizadas há mais de dois mil anos.
Neste caso, estamos falando de Samhain, o festival que marcava o fim de ano e o fim do verão pelos celtas. Quando falamos de “celtas”, estamos usando uma generalização para os diferentes grupos da região oeste da Europa. Para os celtas, o ano novo começava com a escuridão, representada pela chegada do inverno e pelo recolhimento proporcionado pelo período.
Os relatos sobre o Samhain são bem diversos, mas acredita-se que, em alguns locais, era comum acender fogueiras. A prática de adivinhação também era realizada, com a suposta aparição de entidades mágicas, como fadas, entre outras situações sobrenaturais, como a aproximação com os mortos.
Com o domínio cultural imposto pela Igreja Católica, muitas datas e celebrações pagãs foram adaptadas e misturadas às novas tradições cristãs. Dessa forma, diferentes tradições foram se fundindo e, aos poucos, se transformaram no Halloween como conhecemos hoje.
Como os Estados Unidos popularizam o Halloween?
As nossas principais referências comuns sobre o Halloween são exportadas do que é feito nos Estados Unidos. O país da América do Norte possui forte influência cultural sobre o nosso e, portanto, é comum que a data chame a atenção por aqui também, mesmo não sendo parte de nosso calendário cultural próprio.
A data é praticamente um feriado não oficial nos Estados Unidos da América, e é considerada por muitos analistas como a maior data festiva não cristã no país. As comemorações do Halloween mobilizam crianças e adultos em festas à fantasia, brincadeiras nos bairros e escolas e decorações assustadoras nos quintais.
Doces ou travessuras: as origens na Escócia e Irlanda
Você já ouviu a frase “doces ou travessuras” (Trick-or-Treating)? É parte das brincadeiras norte-americanas na data. As crianças batem às portas na vizinhança com potes na mão em busca de doces e fazem essa pergunta. Quem não colabora, acaba sofrendo uma pegadinha das crianças, como um susto ou um quintal cheio de papel higiênico ou espuma. É mais fácil ser um bom vizinho, entregar os doces e participar das brincadeiras, não é mesmo?
De acordo com o History Channel, a tradição de pedir doces veio de uma prática antiga na Escócia e Irlanda, chamada souling, quando as pessoas iam de porta em porta pedindo por um soul cake (traduzindo, um “bolo da alma”), em troca da promessa de rezar pela alma de algum parente morto. Afinal, acreditava-se que essas rezas ajudariam as almas a encontrarem a paz e irem para os céus.
Outra tradição parecida era o guising, quando escoceses e irlandeses visitavam casas vizinhas vestindo fantasias e aceitando oferendas de várias famílias. No lugar de orações, as pessoas cantavam, contavam piadas ou faziam brincadeiras antes de ganhar presentes como moedas, frutas ou nozes.
As máscaras de Guy Fawkes
Por fim, se mistura a esse caldeirão cultural a data de Guy Fawkes, um soldado inglês executado em 1606 durante a Conspiração da Pólvora contra a coroa britânica. No dia 5 de novembro, data próxima ao 31 de outubro, eram acesas fogueiras e as crianças saíam às ruas com máscaras e efígies de Guy Fawkes pedindo moedas.
Todas essas tradições acabaram sendo trazidas para os Estados Unidos, principalmente após a imigração irlandesa pela fome em 1840, e acabaram gerando o Halloween contemporâneo. Atualmente, a comemoração também é bem tradicional entre os irlandeses e movimenta as ruas na Irlanda.
O Halloween dos Estados Unidos de hoje
Mas a história do Halloween nos EUA não é tão “certinha” quanto parece. Afinal, algumas confusões entre os jovens que gostavam de uma boa bagunça e episódios de vandalismo entre o fim do século XIX e a metade do século XX demandaram a organização e pacificação da festa. Hoje ela influencia a cultura pop norte-americana.
Quem consome séries televisivas produzidas nos Estados Unidos com frequência já está acostumado com os episódios especiais de Halloween, quando muitas vezes o tema principal da história até dá um respiro para brincadeiras, situações fantasiosas e sem muito sentido, com aventuras assustadoras dos personagens.
Um dos principais exemplos que podemos indicar é o da série “Os Simpsons” (The Simpsons, 1989-atual). Criado na segunda temporada da série, em 1990, o especial de Halloween chamado “Treehouse of Horror” virou tradição anual e conta com um episódio dividido em três partes, com histórias diferentes de aproximadamente seis minutos cada – com paródias de filmes de terror, fenômenos sobrenaturais e até aventuras de ficção científica.
Nas festas de Halloween dos Estados Unidos, as fantasias habitualmente trazem elementos caracterizados como de terror pelo cinema e literatura, como os vampiros, bruxos, monstros, seres místicos ou assassinos da ficção. Mas muita gente aproveita a data para fazer piada e se vestir de qualquer personagem famoso de forma engraçada.
Abrasileirando a festa: Dia das Bruxas? Dia do Saci?
Os registros mais generalistas datam das décadas de 1970 e 1980 o início das primeiras festas de “Halloween” no Brasil. Na maioria das vezes, realizadas por escolas de idiomas da língua inglesa, com o objetivo de imersão na cultura norte-americana. Aqui, a data foi traduzida como “Dia das Bruxas”. Entretanto, não é certo afirmar que a data é amplamente popular no Brasil.
Em entrevista ao Jornal da USP, o historiador Alexandre Ganan Figueiredo explica um dos motivos para essa falta de popularidade: “O Dia das Bruxas não possui relação com as tradições e a formação cultural brasileiras, por isso não é usual”.
Em 2003, alguns deputados federais tentaram aprovar uma lei criando o Dia do Saci em 31 de outubro. Apesar da ideia não ir para frente na casa legislativa, a data acabou pegando extraoficialmente em vários lugares.
O projeto tinha o objetivo de adaptar o dia do Halloween ao nosso folclore e costumes, afinal, o Saci é um dos principais representantes dos diversos contos e lendas brasileiros. Na justificativa, os deputados não desprezam as origens milenares do Halloween, mas explicam que outras tradições, como as festas juninas, também foram abrasileiradas com nossos costumes.
“A intenção deste projeto é ensinar as crianças que o país também tem seus mitos, difundindo a tradição oral, a cultura popular e infantil, os mitos e as lendas brasileiras. Em vez de bruxas e gnomos, a manifestação cultural deve valorizar figuras folclóricas que se refiram às tradições brasileira”, defendeu a deputada Angela Guadagnim.
As opiniões divergentes sobre o assunto ainda fomentam o debate, mas o fato é de que as duas comemorações são válidas e ajudam a contar mais sobre as raízes dos povos, suas tradições e histórias.
Dia dos Mortos no México
O México é um dos países em que há uma grande festividade popular do próprio país entre o fim de outubro e o começo de novembro. Por lá, o Día de los Muertos tem uma importância cultural muito grande, herdada dos povos originários da região no período pré-hispânico. A data foi declarada como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco.
Durante o Dia dos Mortos é comum ver crianças e adultos pintados de caveiras, montar altares com alimentos e imagens para os mortos, criar caveiras de açúcar, decorar os locais e roupas com muitas flores e reproduzir a imagem de “La Calavera de la Catrina”, uma ilustração de José Guadalupe Posada.
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