Caracterizado pelo surgimento de manchas brancas variadas na pele, o vitiligo é uma doença que desperta a atenção de muitas pessoas e que ainda está cercada de incertezas. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, 1% da população mundial e 0,5% da brasileira é afetada pela doença, ou seja, estima-se que um milhão de brasileiros tenham vitiligo.

Em 2012, a então presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei Federal nº 12.627, que instituiu o 1º de agosto como o Dia Nacional dos Portadores de Vitiligo para ajudar na conscientização e no combate ao preconceito e desinformação a respeito dessa doença.

Explicamos aqui no blog o que é o vitiligo e desmistificamos algumas das principais questões relacionadas à doença.

O que é o vitiligo e suas causas 

O vitiligo é uma doença dermatológica, ou seja, que atinge a pele, e consiste na perda da coloração natural da pele de uma pessoa. Nos indivíduos com vitiligo, há uma inibição ou diminuição dos melanócitos. Estas células são as responsáveis pela fabricação de melanina, proteína que dá à pele as suas tonalidades.

Devido a essa ausência, surgem lesões cutâneas que resultam em manchas brancas (regiões hipopigmentadas) que podem ter tamanhos variados. A doença não traz implicações diretas para a saúde, mas alguns pacientes relatam maior sensibilidade ou dores na região afetada.

A divisão de tipos do vitiligo normalmente é apresentada entre “segmentar ou unilateral” e “não segmentar ou bilateral”. A primeira é quando a doença se manifesta em apenas uma parte do corpo e pode acometer cabelos e pelos. O segundo tipo é mais comum e se apresenta primeiramente nas extremidades do corpo, como em mãos, pés, joelhos, nariz, boca etc.

Outro tipo de divisão dos tipos de vitiligo feita pelos dermatologista é realizada conforme quais locais são afetados pela lesão:

  • Focal: pequenas lesões e em locais específicos. 
  • Mucosal: somente nos lábios e região genital. 
  • Segmentar: apenas em uma parte do corpo. 
  • Acrofacial: aparece nos dedos, em volta da boca, dos olhos, do ânus e dos genitais. 
  • Comum: lesões no tórax, abdômen, pernas, nádegas, braços, pescoço, axilas, mais a do tipo acrofacial. 
  • Universal: lesões por quase todo o corpo.
Vitiligo é Genético?
O tipo mais comum do vitiligo, o não segmentar, aparece primeiramente nas extremidades do corpo, como mãos e pés.

As causas diretas do surgimento do vitiligo ainda são desconhecidas, mas as evidências apontam para questões envolvidas com a alteração na autoimunidade. Também há indícios de que fatores como o alto nível de estresse podem ajudar a desencadear a doença.

Qual a relação da genética com o vitiligo? 

De acordo com o Guia de Doenças e Sintomas do Hospital Albert Einstein, aproximadamente 30% das pessoas com vitiligo relataram ter familiares conhecidos com a doença. Pessoas que são parentes de indivíduos com a doença devem ter uma vigilância recorrente com sua pele a fim de identificar lesões de hipopigmentação e assim, caso sejam diagnosticadas com vitiligo, iniciar o tratamento precocemente.

Estudos científicos tentam descobrir quais genes estariam ligados diretamente ao desenvolvimento do vitiligo. Um artigo publicado na revista científica Nature Genetics em 2016 por um grupo da Universidade do Colorado (EUA) identificou 23 genes de risco que estariam relacionados com o aparecimento de vitiligo, além da associação com outras doenças autoimunes, como a artrite reumatoide, diabetes tipo 1, esclerose múltipla e lúpus.

Pesquisas como esta são importantes pois ajudam na criação de tratamentos e testes específicos que no futuro poderão impactar positivamente no diagnóstico e contenção da doença.

Leia também: O que é a Escala de Risco Genético da Genera?  

O vitiligo tem cura ou tratamento? 

Não há uma cura definitiva reconhecida globalmente para o vitiligo. Mas existem diversos tratamentos que podem colaborar na estabilização da perda recorrente de pigmentação e até formas de repigmentar as regiões afetadas pelas manchas brancas.

O médico dermatologista é a pessoa capacitada para indicar a melhor forma de tratamento do vitiligo, que pode envolver medicamentos, fototerapia ou até mesmo apenas um tipo de maquiagem desenvolvida especificamente para peles com vitiligo.

Vitiligo é Genético?
O grande desafio relacionado ao vitiligo é quebrar os estigmas e os mitos relacionados a essa condição dermatológica.

Xô, preconceito! 

Um fato muito importante para sempre se ressaltar é que o vitiligo não é contagioso. Esta ideia apenas cria preconceitos infundados e traz prejuízo à saúde mental dos pacientes com a doença, que sofrem com olhares desconfiados, falas e afastamento social frutos de pensamentos maldosos ou desinformados. 

A pele é uma parte exposta do corpo humano e que está diretamente ligada com a nossa identidade visual. Apresentar algo nela que foge da uniformidade padrão, como as manchas do vitiligo, vai chamar a atenção – e, infelizmente, na maioria dos casos, de forma negativa. E isso mexe muito com a autoestima dos pacientes, o que pode afetar as condições de saúde física e mental. 

Atualmente, muitos dermatologistas, cientes das dificuldades que seus pacientes passam, indicam a eles que também procurem acompanhamento psicológico como parte complementar do tratamento do vitiligo. Isso pode ajudar o paciente a lidar melhor consigo mesmo e a valorizar sua imagem, a não se desesperar e não cometer atos que possam machucar a pele e não recomendados pela ciência. 

Também é papel da sociedade em geral e dos entes públicos colaborarem com a quebra dos estigmas que envolvem o vitiligo, com campanhas que esclareçam o tema e busquem o fim da normalização do preconceito que tanto afeta estas pessoas. 

Casos famosos de vitiligo na mídia 

É provável que o caso de vitiligo mais conhecido do mundo seja o do falecido cantor norte-americano Michael Jackson (1958-2009). A estrela global sempre foi alvo de boatos envolvendo o vitiligo e suas mudanças estéticas. Este tema sempre acompanhou a carreira do astro, com fatos amplamente divulgados pelos tabloides até hoje sem esclarecimento. 

Em uma entrevista marcante para a apresentadora Oprah Winfrey, Jackson falou sobre a sua doença e as sérias acusações de que estaria usando de artifícios para “se tornar” branco. Ele negou conhecer um processo de descoloração de pele: “Eu tenho uma doença de pele que destrói a pigmentação da pele. Não posso fazer nada ou controlar isso. As pessoas criam histórias e isso me machuca. Começou a acontecer após [o lançamento] de Thriller. Meu pai disse que isso vem do lado da família dele”, afirmou. 

Em 2022, o reality show Big Brother Brasil (BBB), da TV Globo, teve como participante a modelo Natália Deodato. No caso dela, as manchas na pele são bem visíveis por todas as partes do corpo, o que trouxe o tema sobre o vitiligo, o preconceito e a aceitação para os debates da audiência em torno da vigésima-segunda edição do programa. 

Durante uma conversa dentro da casa do BBB com a médica e participante Laís Caldas, Natália contou que sua primeira ocorrência de vitiligo apareceu aos nove anos. Ela diz que sabe apenas de um caso distante em sua família de outra pessoa que tem a doença. 

Segundo a plataforma Google Trends, na semana de divulgação dos participantes do BBB, o buscador registrou o maior pico de pesquisas sobre o termo “vitiligo” no Brasil desde 2004, quando a contagem começou. O pico anterior foi justamente no período referente à morte de Michael Jackson, entre junho e julho de 2009.

Esses dados estão demonstrados no gráfico abaixo:

Buscas relacionadas ao vitiligo no Google. O maior pico ocorreu em 2022 com a entrada da participante Natália Deodato, que tem vitiligo, no BBB 22 (Relatório obtido no Google Trends).

Isso demonstra como o tema é desconhecido por boa parte dos brasileiros e como ainda há carência de informações sobre o assunto, trazendo estigmas e preconceitos que afetam os acometidos pelo vitiligo. Natália fala abertamente sobre o assunto, sobre tentar afastar os traumas psicológicos da infância e como hoje trabalha para ajudar outras pessoas a melhorarem a sua autoestima e lidar com o vitiligo. 

“O que mais gosto no meu corpo é o meu vitiligo! Quando falam que sou manchada, agradeço. Não tenho problema nenhum e sinto prazer em falar sobre ele, porque, infelizmente, o que falta nas pessoas é informação”, disse a ex-BBB em entrevista ao site Gshow. 

Outros famosos também já falaram publicamente sobre ter vitiligo, incluindo alguns em que a perda de coloração da pele não está em pontos normalmente expostos: 

  • Rappin’ Hood (rapper brasileiro) 
  • Luiza Brunet (modelo brasileira) 
  • Gian (cantor brasileiro) 
  • Jon Hamm (ator norte-americano) 
  • Winnie Harlow (modelo canadense) 
  • Sophia Alckmin (digital influencer brasileira) 
  • Igor Angelkorte (ator brasileiro) 
  • Tiê (cantora brasileira) 
  • Steve Martin (ator norte-americano) 

Mitos e verdades sobre o vitiligo 

Agora que você já sabe as principais causas sobre o vitiligo, que tal memorizar estas perguntas e respostas sobre o assunto para ajudar no combate à desinformação e ao preconceito? 

“Posso pegar o vitiligo ao encostar em outra pessoa com a doença?” 
Mito. O vitiligo não é contagioso. Não há perigo algum de infecção pelo contato físico ou compartilhamento de objetos ou ambiente. 

“O vitiligo é um câncer.” 
Mito. O vitiligo e o câncer são doenças diferentes, que têm definições médicas, causas, diagnósticos, sintomas e implicações completamente distintas umas da outras. 

“Quem tem vitiligo precisa tomar cuidados maiores com o câncer de pele.” 
Verdade. A pele do portador de vitiligo é mais sensível e, portanto, devem ser redobrados os cuidados, como o uso de protetor solar 

“Existe predisposição genética para vitiligo.” 
Verdade. Cerca de 30% dos pacientes têm histórico familiar de vitiligo.

“Vitiligo é hereditário.” 

Mito: ter predisposição genética não quer dizer que a doença é obrigatoriamente hereditária. Ou seja, uma pessoa com vitiligo pode ter pais sem a doença. O contrário também é válido: uma pessoa com vitiligo pode ter filhos que nunca irão apresentar sintomas.

Vitiligo é Genético?
Embora haja estudos relacionando a genética ao vitiligo, pessoas com a condição podem ter filhos que nunca a apresentem.

 “O vitiligo só atinge pessoas negras.” 
Mito. O vitiligo pode acometer pessoas com qualquer cor de pele. Obviamente, a despigmentação fica mais evidente em pessoas mais escuras, o que chama mais atenção. Mas é apenas uma impressão errada sobre o assunto. 

“A doença só surge depois de adulto.” 
Mito. O vitiligo pode surgir já durante a infância. Não há um momento específico para a doença se manifestar. 

“Pessoas com vitiligo devem esconder suas manchas” 
Mito. Esta é uma afirmação totalmente preconceituosa e que passa longe de qualquer base científica. O vitiligo não é uma ferida e não é transmissível. As pessoas com vitiligo devem decidir como querem lidar com suas manchas e não cabe a outras pessoas opinar sobre isso. 

“Existem vários tratamentos para o vitiligo.” 
Verdade. A melhor forma de conhecer o tratamento para o vitiligo para cada caso é se examinando com um médico dermatologista especializado. Não use cremes caseiros ou tratamentos sem prescrição médica. 

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Referências

Genome-wide association studies of autoimmune vitiligo

HOSPITAL ALBERT EINSTEIN. GUIA DE DOENÇAS E SINTOMAS.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Vitiligo. In: Biblioteca Virtual em Saúde.